terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Crack gira narcotráfico no município

RUBENS SANTANA

A venda de crack nas ruas de Montes Claros aparece como o principal negócio de traficantes e é responsável em fazer girar o narcotráfico no município. A constatação é da Polícia Militar, que neste ano, entre o dia 1º de janeiro e 31de dezembro, retirou de circulação mais de cinco kg, 3.643 pedras do entorpecente, prontas para serem vendidas em porções que variam de R$ 10 a R$ 20.

Segundo especialistas em saúde, a droga é ainda a que representa os principais danos ao organismo do usuário, por isso são necessárias políticas públicas eficazes, abrangendo toda a sociedade, para que este impacto seja amenizado. Dados da PM apontam que o crack representou mais de 50% das apreensões de drogas feitas com traficantes.
Foram quase vinte kg, sendo 1,687kg de cocaína e 10,580 kg de maconha e 5,687kg de crack.
Segundo a assessoria do 10º Batalhão da Polícia Militar, capitã Gracielle, apesar da quantidade de maconha ter sido superior, o crack é o principal entorpecente encontrado nas ruas. "Tivemos uma apreensão de superior a 10 kg de maconha, por isso o número é maior, mas é o crack que gira o tráfico em Montes Claros. No dia-a-dia, é a droga número um dos traficantes e usuários", observa.

O reflexo desse quadro, conforme Gracielle está também nas próprias prisões em flagrante realizadas pelos policiais militares. “Uma grande parte dos flagrantes, foram relacionados ao tráfico de drogas”, afirma.
A quantidade de entorpecentes retirada de circulação, para a capitã, foi positiva, especialmente porque impactou no consumo. "Toda essa droga seria comercializada. Quantas famílias não poderiam ter sido destruídas?", questiona a capitã. Por isso, Gracielle afirma que as denúncias, feitas pelo telefone 181 ou pelo 190, são essenciais para o combate à prática. Mas para quem já é dependente, a luta é ainda mais tortuosa.

Centro de Atenção Psicossocial de álcool e outras drogas

Montes Claros possui um Centro de Atenção Psicossocial de álcool e outras drogas, (Caps/Ad) que está voltado a assistir pessoas com problemas de saúde mental, individual e coletiva, que esteja vivendo problemas com álcool ou drogas.

Apenas nesse Centro, é atendido diariamente trinta pessoas permanentes das 08h às 18h, juntamente com mais quinze pessoas que são acolhidas diariamente.
Porém esse número encontra se menor, já que o centro conta com uma equipe reduzida de funcionários. Segundo a coordenadora do Centro, que pediu para não ser identificada, até o ano passado o serviço contava com profissionais da área de Psicologia, Psiquiatria, Serviço Social, Enfermagem, Educação e Estagiários do ILA.

Devido às chuvas que caíram nos últimos meses, a estrutura do local foi afetada, com isso, o Caps/AD, não tem como atender a mesma quantidade de pessoas que o centro atendia até o fim do ano passado. O Centro atende hoje aproximadamente dez pessoas permanentes e quinze pessoas que passam diariamente pelo Caps/Ad.

A assessora da Secretária de saude June Marise, informou que devido a atual administração ter tomado posse há apenas 20 dias, ainda não dá para se ter uma idéia de tudo que está acontecendo, mas que a atual administração está planejando um novo sistema de saude mental. “Iremos remodelar o atual sistema de saude mental. Estamos há pouco tempo junto com a atual administração.
Mas estudos e levantamentos estão sendo feitos para o mais rápido possível entregarmos o serviço a população”, afirma a assessora. Ela observou ainda que a secretaria de saude tem conhecimento que devido as chuvas, realmente o atendimento no Caps/Ad ficou comprometido, porém a saude mental foi uma das áreas que não sofreu cortes de funcionários e não aconteceu intervenção do prefeito Luiz Tadeu Leite.

Educação e políticas públicas, ato indispensável e fundamental para prevenção

O psiquiatra Josemar de Lima Oriani, especialista em saúde mental, afirmou que, no âmbito da saúde pública, o problema das drogas é uma realidade social que abrange a todas as classes e que deve ser encarado de forma eficaz. "Assumindo isso, só haverá uma atuação adequada instituindo políticas públicas voltadas à questão e não apenas direcionadas à saúde, mas envolvendo emprego, moradia, lazer e educação".

Isso porque, o dependente químico, conforme o médico, passa a usar as drogas quando se encontra vulnerável em algum destes aspectos, como o desemprego. A família, para Oriani, também possui papel importante. "A grande maioria dos dependentes tem um transtorno de afeto. A família tem uma singularidade importante no acolhimento e acompanhamento desse paciente, sobretudo na compreensão."

Segundo o psiquiatra, o primeiro fator que leva a pessoa a experimentar a droga é a curiosidade. Depois, para ser aceito no grupo, começa a beber, fumar e a cheirar cocaína. O diferencial ficará para aquele que tem um resguardo da família. No entanto, Oriani alertou para que o amor não seja confundido com o materialismo. "Às vezes a sociedade pensa que dar carinho está na forma material, bastando comprar uma bola, uma bicicleta e uma pipa. A questão é desfrutar isso junto com o filho", observa.

O uso de entorpecentes, de acordo com o médico, está também cada vez mais precoce, tanto que ele possui como paciente uma criança de sete anos. Para o problema ser amenizado, é preciso uma aplicação eficaz das políticas públicas, especialmente nas comunidades carentes. "Se a sociedade quer evitar que crianças e adolescentes vão para as drogas, devem passar o tempo com a família e na escola, que é o fundamental, já que nessa época são feitas as abordagens do tráfico."

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