sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Em pleno século XXI, calazar aterroriza Montes Claros

Calazar volta à tona, mas jornal já mostrava precariedade no CCZ

No ano passado, apesar de ser primeiro de abril, dia da mentira, enquanto repórter do jornal O NORTE DE MINAS, o jornalista Rubens Santana denunciava a precariedade e sucateamento em que se encontrava o CCZ (Centro de controle de Zoonoses) em Montes Claros.

Passado mais de nove meses, novamente a proliferação do Flebótomo, mosquito transmissor da leishmaniose visceral, o calazar, volta à tona em um meio de comunicação na cidade: o montesclaros.com. Várias mensagens foram postadas naquele órgão, mas os gestores do município continuam tapando o sol com o peneira e não divulgam os números reais.

Confira a matéria publicada no dia 01/04/2010 no site http://onorte.net/noticias.php?id=26985

O Norte de MinasUma publicação da Indyugraf Ltda.www.onorte.net


Vice-campeã da dengue é campeã de calazar no estado

01/04/2010 - 09h09m

Rubens Santana
Repórter

Nos últimos meses, a administração do prefeito Luiz Tadeu Leite contratou diversas pessoas para o setor de combate à dengue, porém, o que se viu foi um expressivo número de casos confirmados. Enquanto isto, o setor de combate ao mosquito transmissor da leishmaniose visceral, o calazar, encontra-se sucateado: apenas 16 funcionários trabalham na borrifação.

(ARQUIVO/XU MEDEIROS)

Cães andam soltos pelas ruas de Montes Claros; setor responsável
por combate ao calazar não possui transporte para funcionários
.

Embora as autoridades sanitárias do município não admitam, Montes Claros está sob epidemia de dengue. E, além disso, nos últimos dois anos, já foram confirmados 72 casos de pessoas com calazar. O sistema da saúde na cidade está esfacelado em todos os aspectos.

A leishmaniose, popularmente conhecida como calazar, zoonose que, até o ano de 2007, na administração do ex-prefeito Athos Avelino (PPS), contava com números inferiores a 15 casos por ano, neste ano de 2010, até o dia 11 de março já contava com 17 casos confirmados, segundo um funcionário do setor responsável pelo combate ao calazar. A gerência regional de saúde afirma que tem conhecimento de 12 casos até o momento.

Dados da GRS em Montes Claros apontam que a maior cidade do Norte de Minas é a campeã de casos confirmados em toda a região norte-mineira e Vale do Jequitinhonha. Entretanto, existe a informação de uma fonte no CCZ – Centro de controle de zoonoses de que Montes Claros é a campeã em todo estado.

SEM TRANSPORTE PARA OS FUNCIONÁRIOS, MOSQUITO SE PROLIFERA NA CIDADE

Além de a equipe que trabalha no combate ao mosquito transmissor estar totalmente reduzida, apenas 16 pessoas para trabalhar com o borrifador, os funcionários não possuem veículos para o trabalho de borrifação.

Os trabalhadores têm que se locomover até as residências suspeitas em veículos próprios ou utilizar o transporte alternativo, mototaxi, e pagar a corrida do próprio bolso.

Uma fonte que trabalha na equipe de combate ao flebótomo, mosquito responsável pela transmissão do calazar, entrou em contato com a reportagem e, indignado com o sucateamento em que se encontra o setor, resolveu contar o abandono para chamar a atenção do poder público municipal.

- Eles ficam se preocupando com o combate à dengue e estão abandonando a equipe de combate ao calazar. Não temos nem como trabalhar. Temos que ir ao local suspeito nos nossos veículos ou de mototaxi - afirma um funcionário da equipe que preferiu não se identificar com receio de represálias.

Aproximadamente 600 pessoas trabalham no combate à dengue em Montes Claros.

- Se o combate à dengue é um fator primordial da atual administração, o combate ao calazar não poderia ficar de fora. Começamos com 40 funcionários e tínhamos veículos para ir até o local suspeito. Hoje, somente 16 pessoas trabalham e não temos nem como nos locomover - afirma o funcionário.

EM 2009 COMEÇOU O SUCATEAMENTO DO SETOR, AFIRMA FUNCIONÁRIO

A disseminação da leishmaniose em algumas partes do país era uma afecção tipicamente rural, mas está se urbanizando em virtude das transformações climáticas e desmatamentos.

A emigração do homem da Zona Rural às grandes áreas metropolitanas com o flebótomo é a verdadeira causa do aparecimento do calazar com todas as suas implicações à saúde pública.

Em 2008, segundo a GRS - Gerência regional de saúde, 36 casos foram confirmados, número que se repetiu em 2009. Com o afastamento de alguns funcionários, outros que se aposentaram e o remanejamento de alguns para a equipe de combate à dengue, até o dia 11 de março, 17 casos foram confirmados, o que chama a atenção para uma possível pandemia na cidade.

No último ano da administração do ex-prefeito Athos Avelino, a prova de que a equipe de combate ao calazar estava estruturada é que 27.329 cães foram examinados, sendo que 2.178 estavam positivos. Com média de 2.278 exames mensais, 143 cães por mês eram sacrificados.

No primeiro ano da administração do prefeito Luiz Tadeu Leite, o número de cães examinados caiu para 22.102, redução de 19,13%. 2.111 cães estavam contaminados e 1.375 foram sacrificados.

Com o quadro de total abandono e descaso encontrado pelos funcionários do setor, em 2009 foram examinados em média 2.060 cães por mês.

Neste ano de 2010, em três meses, somente 1.920 cães foram examinados, média mensal de 640 cães, redução de cerca de 68% em exames de cães.

Dos cães examinados em 2010, 268 foram constatados positivos.

Segundo a nossa fonte, com as chuvas que caíram nos últimos dias a situação ficou propícia para disseminação do mosquito transmissor.

- Eles aparecem por volta das 18h, ao anoitecer. Gostam de matérias orgânicas em decomposição, onde se proliferam. Galinheiros, embaixo de árvores, onde a terra fica úmida e sempre tem material orgânico, são lugares onde frequentemente o flebótomo costuma ficar e se reproduzir - afirma o funcionário.

Ainda segundo o funcionário, o transmissor da leishmaniose, conhecido também como mosquito palha e cangalhinha, se alimenta de sangue, cães são os alvos principais. Ao sugar um cão contaminado, a partir daquele momento o mosquito também fica positivo e prolifera o vírus para outros cães em diversos lugares.

- Por isso, o combate através de borrifação é importante. Temos que combater o mosquito e não o cão. O cachorro não tem culpa nenhuma. Precisamos ter estrutura para trabalhar, senão a situação vai ficar alarmante - afirma.

CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOSES NÃO ESTÁ FAZENDO TESTE DE CALAZAR EM DOMICÍLIO

Dois moradores do Bairro Renascença ligaram para o Centro de controle de zoonoses, porque suspeitavam que dois cães estavam contaminados. Perguntaram ao atendente se os funcionários poderiam ir até o local para coleta de sangue. Conforme afirmaram, o atendente disse que não tinha funcionários disponíveis para atender a domicílio e o proprietário do cão teria que levar o animal até o CCZ.

Um dos moradores afirmou ao atendente que não tinha veículo para levar o cão, e a resposta foi: - Aguarde a vez de seu bairro ser visitado, então.

Puro descaso e falta de preocupação com a saúde da população.

PREOCUPAÇÃO VEM DE LONGA DATA, MAS ABANDONO É RECENTE

No dia 12 de setembro de 2005, O NORTE informava:

- Funcionários do centro de controle de zoonoses fazem serviço de conscientização: objetivo é evitar surtos de calazar.

Preocupados em intensificar os trabalhos para diminuir os casos de leishmaniose – calazar no Norte de Minas, os funcionários do CCZ – Centro de controle de zoonoses estão fazendo um trabalho de conscientização com a população. Por falta do kit - material de coleta de sangue dos animais, os funcionários do CCZ estão montando um trabalho de vigilância para evitar surtos da doença.

Na oportunidade, havia funcionários e meios de transportes para os trabalhos de conscientização da população. Os funcionários visitavam as casas e mostravam aos moradores como é o mosquito transmissor da doença e como manter a higiene nas casas para evitar o contágio.

OUTRO LADO

Por volta das 17h, a reportagem tentou entrar em contato com o funcionário Joel Fontes, responsável pelo setor de combate ao calazar na cidade, porém, este já havia ido embora.


14 Dias depois, matéria ultrapassa fronteiras...


O Norte de MinasUma publicação da Indyugraf Ltda.www.onorte.net


Calazar ultrapassa fronteiras e chama atenção de especialista em São Paulo

14/04/2010 - 08h07m

Rubens Santana
Repórter

A notícia de que a saúde pública em Montes Claros se encontra esfacelada em todos os sentidos ultrapassou as fronteiras interestaduais e chegou ao estado de São Paulo. Solidarizado com as informações do jornal O NORTE, na sua versão on-line, o médico veterinário Andrei Nascimento, especialista em Leishmaniose visceral, o calazar, entrou em contato com a reportagem para esclarecer para a população dois aspectos importantíssimos no combate à proliferação do Flebótomo, mosquito transmissor do calazar: a prevenção e o tratamento.

Embora as autoridades responsáveis pela equipe de combate ao calazar na cidade e a administração do prefeito Luiz Tadeu Leite não admitam, o caso é grave e precisa urgentemente de programas de conscientização da população, a fim de acabar de uma vez por todas com a proliferação do mosquito.

Andrei Nascimento informa que a Leishmaniose é uma zoonose que pode ser transmitida entre os animais pelo mosquito Flebótomo, e nunca por uma mordida de um cachorro que esteja contaminado. E, no Brasil, por uma determinação do ministério da Saúde, não existe tratamento recomendado para cães. Embora o tratamento exista, o MS não o recomenda.

- Os medicamentos usados no tratamento canino são os mesmos usados no tratamento de humanos. Mas o ministério da Saúde proibiu o tratamento dos cães no Brasil e, como forma de combate a doença, eles indicam que os cães sejam eutanasiados - afirma o especialista.

Diz ainda que o ideal é que todos os veterinários trabalhem com a indicação do que prega o ministério da Saúde.

DIFICULDADE DE RECOLHIMENTO DO CÃO CONTAMINADO

Uma das dificuldades encontradas pelos poucos agentes do CCZ – Centro de controle de zoonoses em Montes Claros é que os donos de cães infectados não os entregam para a eutanásia, morte do cão.

- O comprometimento de todos é essencial. Nestes casos, a direção do centro de controle das zoonoses pode pedir uma autorização judicial para recolhimento do animal - afirma.

Andrei completa que, para esses casos, não existe diferença de cor, sexo, raça ou classe social.

- É um fator que envolve a saúde de uma população. É preciso criar programas de conscientização dos moradores. Será que o afeto por um cão contaminado é maior do que a vida de um ser humano? - Questiona o especialista.

Andrei observa que o ministério da Saúde tem a obrigação e trabalha com doação de inseticidas para evitar que o mosquito transmissor se prolifere.

De acordo com o especialista, o programa oficial do MS consiste em três pontos: diagnóstico e tratamento dos humanos, eutanásia dos cães infectados e controle das densidades dos vetores através de inseticidas.

POPULAÇÃO PODE SER A PRINCIPAL ARMA CONTRA O CALAZAR

Ainda de acordo com o especialista, existem pesquisas recentes que mostram a necessidade de uma proteção individual, indiferente do controle vetorial do MS. O proprietário do cão pode e deve proteger seu animal através da base Deltamitrina 4% recomendada pela OMS – Organização mundial de saúde.

- O proprietário de um cão é o principal responsável pela erradicação do calazar. Através desta prevenção pela coleira Escalibor, que é praticamente um repelente, ela mata o inseto - observa o especialista.

O encoleiramento do animal somente funciona em cães sadios. Se o animal já estiver positivo, a única recomendação do MS é a eutanásia.

Ainda para prevenir a proliferação do mosquito transmissor do calazar, uma questão cultural deve ser observada pela população em geral: muitas pessoas da Zona Rural migraram para as grandes cidades e trouxeram com eles várias tradições.

- Existem pessoas que têm o hábito de ter em seus quintais um pomar, galinheiro e até um chiqueiro onde criam porcos. Esses são os lugares onde matérias orgânicas em decomposição são deixadas pelos moradores e lugares onde o Flebótomo deixa seus ovos, que viram larvas e se alimentam desse material em decomposição. Com isso, vira um ciclo vicioso e nunca combateremos a proliferação do mosquito. É preciso uma maior conscientização de toda a população - afirma.

Andrei lembra que não só os proprietários dos cães podem evitar a proliferação do mosquito, mas todos os moradores, não permitindo que lugares como pomares, galinheiros e chiqueiros sejam mantidos nos quintais das residências.

COLEIRA EXCALIBUR VARIA DE R$ 50 A R$ 60 EM MOC

Já que a CCZ em Montes Claros está totalmente sucateada, com falta de funcionários e veículos, a população tem uma arma no combate à proliferação do mosquito transmissor. Além de evitar que áreas com materiais orgânicos em decomposição sejam mantidas nos quintais, Andrei Nascimento lembra que existe a coleira Scalibur de prevenção, que atua em todo o corpo do cão e age como repelente, matando o mosquito. Com valor aproximado de R$ 50, a coleira atua em todo o corpo do animal e dura cerca de seis meses.

- Com menos de R$ 10 por mês, o cão e os moradores ficam livres desse mal que insiste em atormentar a população brasileira – diz o especialista.

Andrei observa que o mosquito transmissor sai em busca de alimentos no final da tarde e início da noite, horário em que a população precisa redobrar a atenção e não sair com os cães para caminhadas.

Preocupado com a situação, o vereador Valcir da Ademoc (PTB), durante reunião ordinária na câmara dos vereadores na manhã de ontem, terça-feira, deu entrada no projeto de lei 33/210, que institui a semana municipal de controle à Leishmaniose, no início do mês de agosto, com eventos e palestras alusivos ao tema, com intuito de erradicar o calazar em Montes Claros.





sábado, 8 de janeiro de 2011

Cortejo fúnebre continua a todo vapor

Em três dias, três assassinatos

FOTO: PM

Um dos homicídios registrados pela PM e que está sendo investigado pela PC.



O cortejo fúnebre imposto pelos matadores a serviço de traficantes em Montes Claros continua aproveitando a vulnerabilidade da segurança pública para espalhar o terror nos quatros cantos da cidade.


Em oito dias, três pessoas foram brutalmente assassinadas. Contudo, os crimes aconteceram do dia seis deste mês até hoje, oito de janeiro de 2011. Nos últimos três dias, três assassinatos. Um dos homicídios, segundo as polícias civil e militar, provavelmente tem ligação direta com o tráfico de drogas.


Em outro assassinato, a PC ainda não sabe o que motivou a morte de um pedreiro dentro de uma casa em construção. No homicídio ocorrido na madrugada de hoje, uma adolescente de 15 anos foi morta com uma facada no pescoço, o motivo, ciúmes.


Primeiro homicídio

O primeiro homicídio foi registrado pela PM na manhã do dia seis deste mês no Bairro Santa Rafaela, região sul de Montes Claros. Informações apuradas no local do crime dão conta de que, a vítima pediu por clemência, mas foi brutalmente executado.


De acordo com a PM, o corpo de Charles Moreira de Souza, 24 anos, com cinco passagens pela polícia, uma delas por tráfico de drogas, foi encontrado num matagal durante a madrugada de quarta-feira, 06, na Rua Frei Damião, Bairro Santa Rafaela.


Moradores contaram que ouviram Charles pedir para que ele não fosse morto, mas os matadores a serviço de traficante não deram a mínima para a vítima e, logo após o pedido de piedade, diversos tiros foram ouvidos no final da rua. Logo depois dos estampidos, o barulho de uma moto saindo do local também foi ouvido. Charles morava naquele bairro.


Segundo homicídio

No segundo homicídio registrado pela PM, um pedreiro foi executado numa casa em construção por volta das 10h na Rua B, Bairro Independência. Márcio da Silva Miranda, 31 anos, foi morto a tiros. A perícia constatou perfurações na boca e mão direita. Testemunhas contaram a PM que viram quando dois homens fugiram do local numa moto. Márcio não possuía passagem pela polícia e morava na Rua Suíça, naquele bairro.


Terceiro homicídio

No terceiro assassinato registrado pela polícia militar, uma estudante de 15 anos foi morta por uma doméstica com facada no pescoço. O crime aconteceu de hoje, sábado, 08, no Bairro São Geraldo, região sul de Montes Claros.


Segundo a PM, a morte da adolescente Juliana Rodrigues Martins, teria sido motivada durante uma briga por causa de ciúmes envolvendo três mulheres e um homem. O assassinato aconteceu por volta das duas horas da madrugada, na Rua Barão de Mauá.


Segundo a polícia, Juliana Rodrigues Martins, foi esfaqueada no pescoço pela doméstica Carla J.N. Santos, de 20 anos. A estudante morava no Bairro Maracanã. Uma diarista, de 18 anos, também foi presa, acusada de participar do crime.


Tentativas

Além dos três assassinatos, a PM registrou algumas tentativas de homicídios. Na noite de sexta-feira, 07, um jovem de 24 anos com oito passagens pela polícia foi atingido com um tiro no abdome, na Vila Sion. Outros dois homens, com várias passagens pela polícia, também ficaram feridos a tiros, no Bairro Doutor João Alves, na madrugada de hoje, sábado, 08. Os atiradores fugiram de moto.